Nathalia Cavalcante
O filme “O nome da Rosa”, de 1986, do diretor Jean-Jacques Annaud, é baseado no livro de mesmo
título de Umberto Eco. A obra fílmica retrata – por meio de uma investigação
realizada por franciscanos –, as questões religiosas embebidas em símbolos e
sígnos. William de Baskerville (Sean Connery),
nomeado como “Mestre”, por um noviço que o acompanha, Adso Von Melk (Christian
Slater), se mobiliza para desvendar um mistério que cerca as mortes de monges
em um mosteiro italiano beneditino.
O ano é 1327, o
período concentra os mecanismos realizados pela igreja, como meio de alienar a
população, tendo como segundo escopo, o temor de quem ousasse contrariar as
imposições. Nesse momento histórico, indulgências eram ‘vendidas’. A inquisição
pregava a negação ao que não condizia às normas eclesiásticas; e os que
cometiam atentados às regras eram queimados, ainda vivos.
Com isso, o filme,
em conjunto à escrita de Eco, apropriou-se dos elementos característicos e que
enriquecem o estudo da semiótica. Por conta dessa questão é evidente ressaltar
a procura de William de Baskerville e Adso Von Melk pela resposta de uma
indagação dita como diabólica, pelos monges que ali habitavam. Isso, porque
antes da chegada de ambos não havia a interpretação concreta de tais eventos
ocorridos. A partir do momento em que foi possível unir as peças, originou-se
um símbolo, com sinais e interpretação lógicos.
Um livro perdido de
Aristóteles, escrito em grego, guardava segredos. Esse exemplar apresentava
relações sobre o riso, fato julgado como proíbido pela ordem dominicana e símbolo
da heresia. Por conta disso, um velho monge envenenou as bordas das páginas.
Por isso, quem tomasse conhecimento do escrito morreria. Os índices que
auxiliaram William de Baskerville a essa lógica, foram as manchas formadas nos
dedos indicadores e línguas dos monges falecidos.
O conhecimento,
nesse período, era visto como perigoso, pois assim, de certa forma, as pessoas
formariam opiniões em torno do que as cercavam. O dogmatismo regia os costumes
e conduzia a ordem social. Contrário a essa determinação, William de
Baskerville, buscou a preservação das obras nas quais os copistas¹ se dedicaram, para que o
conhecimento não fosse perdido. Juntamente
a isso, o enredo envolve fatores que confrontam aspectos históricos.
O livro proibido de
Aristóteles remonta a ideia de beleza, evidente na concepção grega. Os monges,
no entanto, ratificavam a renúncia a essa representação física. O motivo era a
crença de que a beleza poderia provocar o pecado, concomitantemente, a heresia.
A igreja, envolvida em seus símbolos, como a cruz, representante do sofrimento
de Cristo, conduzia a população à margem da realidade, construindo conceitos
para a deliberação de seus preceitos. Além disso, o reforço à adoração de
imagens, ícones da religião.
Contudo, “O nome da
Rosa”, revela em seus meadros, elementos que promovem a associação aos dados
próprios de um período gerido de modo em que as escolhas não existiam. Para
tanto, é importante mencionar a relação entre os símbolos e seus significados,
ou seja, a ideia em que são embasados. Dessa forma, suscitam diferentes reações,
pois, por exemplo, o livro de Aristóteles, representava a heresia e, ao mesmo
tempo, o vínculo ao conhecimento.
A verdade,
representação eficiente do real, contrariava as determinações religiosas. Por
conta disso, a igreja fortaleceu a inapropriação dos bens intelectuais das
pessoas. Em razão disso, o conhecimento deveria ser considerado insignificante
para a sociedade, quer dizer, signos não interpretados, consequentemente,
diabólicos. O mapa (linguagem) era restrito e relutava ao desenvolvimento. O
território (real), no entanto, era vasto, aguardando a evolução da linguagem.
¹ Monges responsáveis pela cópia de livros,
escritos à mão e decorados com pinturas, conhecidas como iluminuras.
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