Nathalia Cavalcante
Peter Greenaway,
em “A ronda da noite”, de 2007, exibe a passagem de tempo que expressa a
criação da obra que cristalizou a Companhia de Franz Banning Cocq. A partir
disso, constata-se que a fotografia do filme alia-se à dada obra do artista,
adotando o contraste entre luz e sombra, sendo em sua maioria, planos em que as
ações são realizadas com iluminação amena, para valorizar a arte de Rembrandt e
evidenciar uma das obras mais importantes de seu trajeto artístico.
O filme
expressa de modo contundente a representação da história que cerca a obra “A
ronda da noite”, em um ambiente pictórico, como se a encenação estivesse sendo
exposta dentro de uma pintura. Greenaway transporta o espectador à Holanda, de
1642. Ano em que foi realizada a pintura. O diretor faz uso do espaço teatral
para enredar o espectador às indagações de Rembrandt, como na primeira cena em
que o protagonista acredita estar cego e a plateia o rebate, pedindo para que
abra os olhos. A coreografia cênica
induz à reprodução de diferentes telas. Por isso, o filme explora planos que se
assemelham à concepção dessa arte.
A ronda da noite |
Rembrandt (Martin Freeman) declara em diferentes momentos seu amor por
Saskia (Eva Birthistle), sua esposa. Saskia havia convencido Rembrandt a
realizar a pintura. No mesmo ano (1642), falece. Depois disso, o artista
descobre outra vertente de seu método. A partir desse momento passa a adotar um
estilo mais introspectivo. “A ronda da noite” foi concretizada por encomenda.
Rembrandt tomou essa oportunidade para possibilitar a denúncia de um
assassinato. O artista, por fim, é
questionado por conta da forma adotada na pintura de “A ronda da noite”, visto
que ele havia quebrado uma tradição da milícia. Essa ordem estava acostumada a
ser retratada de modo contemplativo, sem ações que pudessem alarmar as pessoas,
diferente da escolha do artista, que os expõe ao questionamento de um crime. A pintura é iluminada ao centro, onde estão o
capitão e seu tenente, as demais figuras tornam-se coadjuvantes na sombra.
Por isso,
Greenaway explora a inquietação do protagonista, seja por meio de suas
indagações e até mesmo ao enaltecer o nu. Na primeira cena, Rembrandt, sonha
que sofreu um ataque por conta da obra e, por fim, o desnudam, como
representação da fragilidade em que o artista se encontrava no momento.
Assim, o
diretor evidencia, em 134 minutos, o universo desse importante pintor e
gravurista, mergulhado em encenações teatrais. Embora utilize figurino da época
e a trilha que, também, condiz com a proposta. O enredo revela a trama desenvolvida
na vida de Rembrandt durante essa realização. O filme, contudo, solicita
atenção aos detalhes, pois é possível salientar que o diretor emprega a associação
com demais informações. Um exemplo é o instante em que Rembrandt conversa com
Hendrickje (Emily Holmes), uma empregada que se relaciona com o artista. Nesse
ambiente estão enfileirados diversos vasos. Ambos dizem como surgiu o interesse
um pelo outro.
O diretor, com
isso, reforça sua opção por encenar em um espaço que se assemelha a um Teatro.
O método se relaciona à farsa teatral. Isso, porque a proposta sugere que as
pessoas retratadas por Rembrandt sabiam que eram observadas, considerando como
uma mentira, uma representação do real, não o real. Por essa razão, o artista
foi criticado, por desejar transmitir a verdade, os movimentos que poderiam ser
reais. Uma alusão a isso é o momento em
que o artista é ferido nos olhos, como ele mesmo diz: “Arrancaram as cores de
mim!” Uma relação à obra e ao não entendimento de sua sensibilidade artística fortemente
representada.
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