Nathalia Cavalcante
O
filme de Derek Jarman apresenta o trajeto de Caravaggio até o reconhecimento,
ocorrido por intermédio do acolhimento de representantes da Igreja Católica.
Por consequência, o artista concebe em suas obras a religião, porém a
envolvendo com aspectos sociais, já que o artista procurava representar em suas
obras pessoas comuns, oriundas de uma condição de vida humilde. O
longa-metragem apresenta Caravaggio em três períodos diferentes: a infância
(Noam Almaz), a juventude (Dexter Fletcher) e a fase adulta (Nigel Terry). O
diretor adotou a narrativa não-linear. Dessa forma, Caravaggio inicia a trama em uma
cama, duranteum resquício de vida. A partir disso, o protagonista envolve a história por meio de sua narração. Assim, Jarman apresenta a vida de Caravaggio contada por meio de flashbacks, em
que o artista narra e conduz a trama até o auge, quando se tornou um artista de
renome.
Nesta obra fílmica são evidenciadas as cores constantes na pintura desse ícone. O vermelho recebe destaque principal, sendo possível de relacioná-lo à energia adotada em torno de seu feito artístico e até mesmo a dramaticidade ilustrada, também, no comportamento e na realidade íntima do artista. O diretor, aqui, se atém unicamente ao protagonista, sua obra e comportamento.
Amor Vincet Omnia (1602 - 1603) |
Nesta obra fílmica são evidenciadas as cores constantes na pintura desse ícone. O vermelho recebe destaque principal, sendo possível de relacioná-lo à energia adotada em torno de seu feito artístico e até mesmo a dramaticidade ilustrada, também, no comportamento e na realidade íntima do artista. O diretor, aqui, se atém unicamente ao protagonista, sua obra e comportamento.
O martírio de São Mateus (1599 - 1600) |
Entre
as pinturas apresentadas no filme, destaca-se: “Amor
Vincit Omnia” (1602 - 1603), “O martírio
de São Mateus” (1599 - 1600) e “A morte da Virgem” (1607). O primeiro retrata a
imagem de Eros. Neste momento, uma moça está à frente da cena. As ações revelam
um tom despreocupado, conforme a imagem do anjo. As demais evocam a maneira
como Caravaggio se relacionava com as pessoas a quem lhe serviam como modelos
e, consequentemente, ao tema atrelado à obra. Essas foram compostas a partir da
participação de pessoas que o protagonista havia conhecido em uma luta de
periferia.
A Morte da Virgem (1607) |
No
segundo, com o lutador, Ranuccio (Sean Bean) a cena anuncia uma possível
relação entre artista e obra, de devoção artística e passional. O terceiro exprime a morte de forma profunda.
A personagem Lena (Tilda Swinton) que posa como a Virgem, havia falecido. Lena
foi encontrada morta em um lago. A vida se esvaiu e como índice desse
acontecimento, na sequência, Jerusaleme (Spencer Leigh) assopra uma vela. Jarman,
com isso, se apropria do contexto “caravaggiano” e a expõe morta, para ser
retratada. Contudo, nota-se que o diretor relaciona a personalidade dos modelos
à obra na qual passam a fazer parte. Além dessas, “São Jerônimo escrevendo” (1606) e “Enterro de Jesus” (1602 - 1603)
fizeram parte da trama. Na primeira, o Cardeal Del Monte posou para Caravaggio.
Na segunda, o protagonista incorporou Jesus, forma de evidenciar a sua morte
concretizada.
São Jerônimo escrevendo (1606) |
Os
elementos fílmicos adotados por Jarman, com isso, dão espaço ao que poderia ser
a realidade, já que o período de vida do artista não possibilitou a conservação
de um acervo considerável. Assim, poderia enquadrar como verídicos todos os
acontecimentos apresentados. Contudo, o diretor se apropria da fonte artística
para revelar seu autor: Caravaggio. Desta forma, os enquadramentos adotados
destacam a técnica do artista. A tela cinematográfica, também, valoriza a tela
em transformação. É possível observar que são construídas duas telas,
concomitantemente: uma pelo protagonista e outra pelo seu criador fílmico.
Enterro de Jesus (1602 - 1603) |
Caravaggio,
de Jarman, expõe em 93 minutos, uma trajetória conturbada, porém rica em
sabedoria e concepção artística, em uma Itália própria do diretor, que ressalta
a propriedade e confiança do protagonista. Como já explanado, o enredo não se
fixa aos detalhes exigidos pelo período de vida do retratado. Além disso, a
trilha sonora apresenta ritmos semelhantes aos do momento de realização do
filme.
Logo,
observa-se que, além da importância dada, exclusivamente, às ações, pode ser
também considerado um modo de aproximar o espectador ao filme e portá-lo à
atualidade, pois Caravaggio foi um artista de vanguarda. Isso, porque o diretor
adotou a visão do artista, sendo assim, até mesmo os créditos finais são
apresentados de modo contrário ao habitual. As obras revelam personagens
simples, ou seja, a realidade da população e suas características próprias são aspectos,
fortemente, destacados na obra de Jarman. Construções imersas em uma crítica social,
favorecendo a contemplação à classe menos favorecida, a tornando elemento
essencial.
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