domingo, 15 de dezembro de 2013

O Nome da Rosa

Nathalia Cavalcante

    O filme “O nome da Rosa”, de 1986, do diretor Jean-Jacques Annaud, é baseado no livro de mesmo título de Umberto Eco. A obra fílmica retrata – por meio de uma investigação realizada por franciscanos –, as questões religiosas embebidas em símbolos e sígnos. William de Baskerville (Sean Connery), nomeado como “Mestre”, por um noviço que o acompanha, Adso Von Melk (Christian Slater), se mobiliza para desvendar um mistério que cerca as mortes de monges em um mosteiro italiano beneditino.
   O ano é 1327, o período concentra os mecanismos realizados pela igreja, como meio de alienar a população, tendo como segundo escopo, o temor de quem ousasse contrariar as imposições. Nesse momento histórico, indulgências eram ‘vendidas’. A inquisição pregava a negação ao que não condizia às normas eclesiásticas; e os que cometiam atentados às regras eram queimados, ainda vivos.
   Com isso, o filme, em conjunto à escrita de Eco, apropriou-se dos elementos característicos e que enriquecem o estudo da semiótica. Por conta dessa questão é evidente ressaltar a procura de William de Baskerville e Adso Von Melk pela resposta de uma indagação dita como diabólica, pelos monges que ali habitavam. Isso, porque antes da chegada de ambos não havia a interpretação concreta de tais eventos ocorridos. A partir do momento em que foi possível unir as peças, originou-se um símbolo, com sinais e interpretação lógicos.
   Um livro perdido de Aristóteles, escrito em grego, guardava segredos. Esse exemplar apresentava relações sobre o riso, fato julgado como proíbido pela ordem dominicana e símbolo da heresia. Por conta disso, um velho monge envenenou as bordas das páginas. Por isso, quem tomasse conhecimento do escrito morreria. Os índices que auxiliaram William de Baskerville a essa lógica, foram as manchas formadas nos dedos indicadores e línguas dos monges falecidos.
   O conhecimento, nesse período, era visto como perigoso, pois assim, de certa forma, as pessoas formariam opiniões em torno do que as cercavam. O dogmatismo regia os costumes e conduzia a ordem social. Contrário a essa determinação, William de Baskerville, buscou a preservação das obras nas quais os copistas¹ se dedicaram, para que o conhecimento não fosse perdido.  Juntamente a isso, o enredo envolve fatores que confrontam aspectos históricos.
    O livro proibido de Aristóteles remonta a ideia de beleza, evidente na concepção grega. Os monges, no entanto, ratificavam a renúncia a essa representação física. O motivo era a crença de que a beleza poderia provocar o pecado, concomitantemente, a heresia. A igreja, envolvida em seus símbolos, como a cruz, representante do sofrimento de Cristo, conduzia a população à margem da realidade, construindo conceitos para a deliberação de seus preceitos. Além disso, o reforço à adoração de imagens, ícones da religião.
   Contudo, “O nome da Rosa”, revela em seus meadros, elementos que promovem a associação aos dados próprios de um período gerido de modo em que as escolhas não existiam. Para tanto, é importante mencionar a relação entre os símbolos e seus significados, ou seja, a ideia em que são embasados. Dessa forma, suscitam diferentes reações, pois, por exemplo, o livro de Aristóteles, representava a heresia e, ao mesmo tempo, o vínculo ao conhecimento.
  A verdade, representação eficiente do real, contrariava as determinações religiosas. Por conta disso, a igreja fortaleceu a inapropriação dos bens intelectuais das pessoas. Em razão disso, o conhecimento deveria ser considerado insignificante para a sociedade, quer dizer, signos não interpretados, consequentemente, diabólicos. O mapa (linguagem) era restrito e relutava ao desenvolvimento. O território (real), no entanto, era vasto, aguardando a evolução da linguagem.




¹ Monges responsáveis pela cópia de livros, escritos à mão e decorados com pinturas, conhecidas como iluminuras.

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