sábado, 14 de dezembro de 2013

A ronda da noite

Nathalia Cavalcante

Peter Greenaway, em “A ronda da noite”, de 2007, exibe a passagem de tempo que expressa a criação da obra que cristalizou a Companhia de Franz Banning Cocq. A partir disso, constata-se que a fotografia do filme alia-se à dada obra do artista, adotando o contraste entre luz e sombra, sendo em sua maioria, planos em que as ações são realizadas com iluminação amena, para valorizar a arte de Rembrandt e evidenciar uma das obras mais importantes de seu trajeto artístico.
O filme expressa de modo contundente a representação da história que cerca a obra “A ronda da noite”, em um ambiente pictórico, como se a encenação estivesse sendo exposta dentro de uma pintura. Greenaway transporta o espectador à Holanda, de 1642. Ano em que foi realizada a pintura. O diretor faz uso do espaço teatral para enredar o espectador às indagações de Rembrandt, como na primeira cena em que o protagonista acredita estar cego e a plateia o rebate, pedindo para que abra os olhos.  A coreografia cênica induz à reprodução de diferentes telas. Por isso, o filme explora planos que se assemelham à concepção dessa arte.
A ronda da noite
Rembrandt (Martin Freeman) declara em diferentes momentos seu amor por Saskia (Eva Birthistle), sua esposa. Saskia havia convencido Rembrandt a realizar a pintura. No mesmo ano (1642), falece. Depois disso, o artista descobre outra vertente de seu método. A partir desse momento passa a adotar um estilo mais introspectivo. “A ronda da noite” foi concretizada por encomenda. Rembrandt tomou essa oportunidade para possibilitar a denúncia de um assassinato.  O artista, por fim, é questionado por conta da forma adotada na pintura de “A ronda da noite”, visto que ele havia quebrado uma tradição da milícia. Essa ordem estava acostumada a ser retratada de modo contemplativo, sem ações que pudessem alarmar as pessoas, diferente da escolha do artista, que os expõe ao questionamento de um crime.  A pintura é iluminada ao centro, onde estão o capitão e seu tenente, as demais figuras tornam-se coadjuvantes na sombra.
Por isso, Greenaway explora a inquietação do protagonista, seja por meio de suas indagações e até mesmo ao enaltecer o nu. Na primeira cena, Rembrandt, sonha que sofreu um ataque por conta da obra e, por fim, o desnudam, como representação da fragilidade em que o artista se encontrava no momento.
Assim, o diretor evidencia, em 134 minutos, o universo desse importante pintor e gravurista, mergulhado em encenações teatrais. Embora utilize figurino da época e a trilha que, também, condiz com a proposta. O enredo revela a trama desenvolvida na vida de Rembrandt durante essa realização. O filme, contudo, solicita atenção aos detalhes, pois é possível salientar que o diretor emprega a associação com demais informações. Um exemplo é o instante em que Rembrandt conversa com Hendrickje (Emily Holmes), uma empregada que se relaciona com o artista. Nesse ambiente estão enfileirados diversos vasos. Ambos dizem como surgiu o interesse um pelo outro.
O diretor, com isso, reforça sua opção por encenar em um espaço que se assemelha a um Teatro. O método se relaciona à farsa teatral. Isso, porque a proposta sugere que as pessoas retratadas por Rembrandt sabiam que eram observadas, considerando como uma mentira, uma representação do real, não o real. Por essa razão, o artista foi criticado, por desejar transmitir a verdade, os movimentos que poderiam ser reais.  Uma alusão a isso é o momento em que o artista é ferido nos olhos, como ele mesmo diz: “Arrancaram as cores de mim!” Uma relação à obra e ao não entendimento de sua sensibilidade artística fortemente representada.

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