Por Nathalia Cavalcante
Robert Bresson |
Robert Bresson
apresenta em sua obra a essência captada pelo cinematógrafo, assim designado
pelo diretor, de onde pertenciam seus filmes. “Filmes de cinematógrafo:
emocionais, não interpretativos” (BRESSON, 2005, p. 79). Para provocar a
coerência na forma de transmitir uma história, Bresson unia a simplicidade, sem
efeitos, ou despida de elementos que pudessem desviar o foco e tornarem-se
maiores em relação a seus modelos. “Quantidade, enormidade, falsidade dos meios
cedendo o lugar à simplicidade e precisão. Tudo conduzindo à medida do que basta a você” (2005, p. 79).
Atores eram considerados viciados em
trejeitos teatrais e carregavam impurezas ao personagem. Por isso, os modelos,
até a experiência bressoniana, não haviam se relacionado com o meio
cinematográfico. Para Bresson, eles sim, transportavam a alma do personagem,
naturalmente. Afastados de preceitos que pudessem caracterizá-los como robôs,
comandados por ordens de diretores. “Modelo. Sua voz (não trabalhada) nos dá
sua personalidade, sua filosofia, bem mais que seu aspecto físico” (2005, p.
62). As ações não eram mecânicas, mas sim, naturalizadas, conforme a
necessidade requisitada pela história e, consecutivamente, os personagens.
Bresson buscava esse objetivo, incessantemente. “Os gestos que ensaiavam vinte
vezes mecanicamente, seus modelos vão domá-los, soltos na ação do seu filme”
(2005, p. 58)
.
Sendo dessa forma,
os modelos eram seu principal desígnio. A consequência desse trabalho refletia
na lente do cinematógrafo, que se preocupava em ações e rostos libertos de
interpretações, mas sim, o embebidos no ser. A captura desses modelos em
sintonia com o universo fílmico, não necessitam de inserções de movimentos
desnaturalizados da câmera. “Os travellings
e panorâmicas aparentes não
correspondem aos movimentos do olho. É separar o olho do corpo. (Não utilizar a
câmera como uma vassoura)” (2005, p. 78).
Além dessas características, Bresson
prezava por sons diegéticos, inseridos diretamente na cena, longe de músicas
inseridas posteriormente, como forma de provocar um grau de emoção ao
espectador. A natureza das passagens se relaciona com os modelos como, por
exemplo, em “Uma mulher suave”, de 1969, em que a personagem principal interage
com um vitrola e imprime nas músicas escolhidas, suas indagações sobre a vida.
O som deve ter autonomia e responder por sua presença. “Um som não deve jamais
socorrer uma imagem, nem uma imagem socorrer um som” (2005, p. 52). Assim como
na realidade, em que os sons fazem parte do cotidiano, são próprios dele, sem a
inclusão futura. Assim como os modelos, personagens únicos, com exceção de
Jean-Claude Guilbert, que participou, em 1966, de “A grande testemunha” e, em
1967, em “Mouchette, a virgem possuída”.
A grande testemunha |
Robert Bresson, então, trabalhava em
seus filmes de cinematógrafo de forma metódica, procurando ressaltar o porquê
de suas escolhas, e como essas refletiam na obra. A realidade bressoniana
compreendia na sensibilidade, avesso ao automatismo, que segundo Bresson, era
vigente na interpretação de atores e a maneira empregada, por eles, em sua
definição de arte. Por isso, “o verdadeiro não está incrustado nas pessoas
vivas e nos objetos reais que você utiliza. É um ar de verdade que suas imagens
adquirem quando você as reúne numa certa ordem” (2005, p. 65).
Mouchette |
Contudo, Bresson expressava o ser em
autoconhecimento. “A precisão das relações impede o cromo. Quanto mais as
relações são novas, mais o efeito de beleza é vivo” (2005, p. 65). O modelo
encontrava por si só, a partir desse entendimento bressoniano, a realidade
fílmica. “AS RELAÇÕES QUE ESPERAM OS SERES E AS COISAS PARA VIVER [sic]” (2005,
p.65). E assim, Bresson, conduzia ao cinematógrafo corpos em descobrimento.
Mãos vivas e ações genuínas, lágrimas banhadas de emoção própria. A verdade de
Bresson longe do automatismo, mas imbuída em autenticidade.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
BRESSON, Robert. Notas sobre o
cinematógrafo. Trad. Evaldo Mocarzel e Brigitte Riberolle. São Paulo: Iluminuras,
2005.
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