O texto dramático de
Nelson Rodrigues intitulado “Vestido de Noiva” é dividido em três atos. As
personagens estão inseridas em três planos diferentes: realidade, alucinação e
memória. O fio condutor é Alaíde, que de forma fantasiosa, traça o enredo e seu
devido desenrolar. As personagens se ligam por uma tragédia: a morte. Fato
relatado com veemência ao longo da trama por todas as personagens.
O autor faz uso do mistério, criando
diversas reviravoltas, fazendo com que o leitor/espectador entre na história,
instigando seu respectivo interesse. A tragédia cotidiana, evidente na obra de
Nelson Rodrigues, revela as fraquezas do ser humano. A família é o alvo dessa
discussão, quando aos poucos uma moça com véu se revela na memória da falecida
Alaíde. O vestido de noiva cobiçado por Lúcia, irmã, é a grande ferida aberta,
causadora de discórdias, culminado em uma morte desejada.
Alaíde está imersa em uma espécie de
purgatório, local onde lembranças se confundem com alucinações, sendo
evidentemente entendidas no plano da realidade, até vir à tona a identidade de
quem havia morrido. O primeiro sinal dessa alucinação se torna claro, quando
Alaíde, no início do primeiro ato, procura por Madame Clessi.
As
personagens que dividem a cena com Alaíde são três dançarinas e dois homens que
lembram o rosto de seu marido, Pedro. Essas pessoas afirmam a morte da mulher,
porém Alaíde não se conforma. Após esse momento, Clessi surge. Afinal, como é
possível uma mulher dada como morta aparecer aos olhos da personagem? Assim,
com a ajuda de Madame Clessi, Alaíde arranca aos poucos da memória o que havia
ocorrido. Desde o suposto assassinado de seu marido, realizado por ela, à sua
própria morte.
No entanto, as lembranças permanecem
turvas, por um longo tempo. A família de Alaíde se concentra no plano da
memória. Clessi no plano da alucinação e a realidade é tomada pelos
acontecimentos pós atropelamento, que culminou na morte de Alaíde. Até a
revelação de que essa personagem havia sido atropelada a dúvida permeia, pois é
possível ligar a tal morte á Clessi, também. Porém, a hipótese cai por terra
quando é exposta a maneira que a confidente de Alaíde foi morta. Por seu
namorado de 17 anos. Mais um fato que comprova a engenhosidade de Nelson
Rodrigues, ao ligar os acontecimentos sem entregá-los, sem oferecer por impulso
o caminho exato do desenlace. Abrindo caminho a uma reflexão de quais são as
verdadeiras personalidades dessas personagens que estão no papel/ palco. Alaíde
é a vítima ou é a fonte da maldade? Lúcia é a irmã traída? Pedro é o bom
marido? Quem é Clessi, afinal de contas? Todas as perguntas são respondidas no
terceiro ato. Alaíde pode ser a mocinha, também. Lúcia não é só a irmã traída.
Pedro não foi tão bom para Alaíde. Dúbias personalidades que resumem o ser
humano.
Com
isso, se constrói o desfecho do drama psicológico criado por Nelson Rodrigues, segunda
peça do autor, levada ao palco, em 1943. A peça é caracterizada por problemas
familiares, devaneios, mesclado à realidade a ser desvendada. Nelson Rodrigues foi
um jornalista recifense, atuando no caderno policial, inicialmente, ajudando a
borbulhar em sua mente importantes histórias. O autor é conhecido por ter
desenvolvido crônicas, primeiramente, sobre futebol. Os textos dramatúrgicos,
bem como, suas crônicas, enaltecem o dia a dia, as fraquezas humanas. O homem e
a mulher são mostrados em suas duas faces: a boa e a má.
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