Almodóvar revela histórias de mulheres que passam por altos e
baixos como em um flamenco
Nathalia Cavalcante
Raimunda, personagem de Penélope Cruz |
Em 121
minutos, mais uma vez é possível prestigiar as cores de Pedro Almodóvar, em
Volver, de 2006. O terceiro filme com Penélope Cruz traz a atriz espanhola no
papel de Raimunda, mãe de Paula, uma adolescente de 14 anos. A dedicação de
Raimunda faz com que ela trabalhe, incansavelmente, para manter a casa. Como se
isso não bastasse, seu marido, Paco, tenta abusar sexualmente de sua filha. A
menina, em legítima defesa, assassina o homem. Depois dessa morte, mãe e filha
unem-se ainda mais.
Soledad, a
Sole, é irmã de Raimunda, e abriga Irene. A mulher é a mãe das irmãs que, até
então, acreditavam piamente na morte dessa personagem. A volta de Irene faz surgir revelações do
passado. A partir daí desvendam-se segredos de família. Mesmo com essas
tragédias, o diretor apresenta a trama com humor. Volver tem um enredo vivo,
com personagens intensas. Cada uma com uma história própria e forte, com razão
para estarem ali.
Irene e Raimunda |
Assim como em Kika
(1993), Tudo sobre minha mãe (1999) e Fale com ela (2002), Almodóvar traz uma
história atípica, porém com a sua característica espanhola de contar. Volver,
assim como o próprio título já revela, é uma narrativa de voltas, sejam elas
boas ou ruins, mas que na verdade, a intenção é colocar tudo em seu devido
lugar. Por isso, nada mais propício que uma volta inesperada e inusitada, a la
Almodóvar.
A mãe que retorna da morte é interpretada por
Carmem Maura. A atriz, veterana em filmes de Almodóvar, depois de 17 anos longe
dos sets do diretor, encarna essa matriarca que havia deixado as filhas, por
ter provocado uma reviravolta no passado. Esse motivo avassalador tem ligação
direta com Raimunda que, até reencontrar a mãe, guardava mágoas. No entanto, o
“fantasma” de Irene reaparece para esclarecer as adversidades ocorridas, que a
fez desaparecer.