Solidão em conflito
A sociedade e sua rede de
aparências em uma crítica de Scorsese
Nathalia Cavalcante
A palavra “trama” cabe muito bem a
Taxi Driver. O filme de Martin Scorsese foi às telas de cinema, em 1976, e
enredou o público em uma história de conflito pessoal de um jovem Robert De
Niro, dono de umas das personagens mais enigmáticas: Travis Bickle. O motorista
de taxi, de 26 anos, sofre com insônia constante, e é incomodado com a sujeira
da cidade. A imundície referenciada por Travis não está, necessariamente, no
lixo das ruas, mas sim, nas pessoas, no modo como encaram a vida. A crítica é
direcionada a sociedade.
A solidão que acompanha a rotina de
Travis, ao passo que poderia trazer momentos de calma, para ele, é um período
de inconformismo e agitação, já que não se encontra naquela sociedade suja. É
evidente que ele busca uma inserção, seja na roda de conversa de seus colegas
de trabalho, ou em um encontro frustrante, com Betsy, uma jovem que trabalha no
comitê de Palantine, um candidato à presidência que promete, com veemência, realizar
mudanças na sociedade. Mesmo assim, Travis não consegue uma inserção efetiva.
Os dias passam, vagarosamente, para ele.
Não há o que fazer. Mas, a inquietação o deixa cada vez mais decidido a tomar
uma atitude. E, assim, a mudança começa a ser gerida. O estopim é o encontro
inesperado com Iris, uma garota de 12 anos, interpretada por Jodie Foster, no
seu segundo filme com Scorsese. A jovem, transtornada, entra no táxi de Travis,
porém, Sport, a retira do carro, joga uma nota de dinheiro amassada, e pede
para que ele esqueça aquela cena. No entanto, Travis não se conforma com o que
presenciou e por alguns dias a segue. A missão, a partir daquele momento, era “limpar
a cidade”. Para ele, o que poderia tirá-lo daquele desconforto, era fazer
justiça com as próprias mãos. Depois de comprar um verdadeiro arsenal de um
caixeiro, Travis mergulha em seus questionamentos.