sábado, 14 de dezembro de 2013

MEU TIO

  Nathalia Cavalcante

   O filme apresenta o mundo paralelo de Monsieur Hulot, personagem do próprio diretor. Esse, tido com um solteirão e sem emprego, dá vida à obra cinematográfica que discute a construção da tecnologia, já na década de 1950, quando foi lançada. O sobrinho de Hulot, chamado Gerard (Alain Bécourt), um menino de aproximadamente oito anos, o segue e prefere a sua companhia a dos pais. A casa onde vive é um exemplo futurístico, com aparelhos tecnológicos que suprem as ações humanas; fazendo com que, de certo modo, sejam até mesmo reprimidas.
   O menino faz travessuras próprias da idade. Hulot, com isso, pode ser considerado sua extensão, já que vê na simplicidade, uma forma divertida de viver, quiçá, poética. Já os pais de Gerard, Madame Arpel (Adrienne Servantie) e Charles (Jean- Pierre Zola), irmã e cunhado de Hulot, estão imersos em uma rotina fria, movidos à base da tecnologia. A casa é uma espécie de fábrica, onde aparelhos ditam a regra. O jardim geométrico dá a ilusão de que o ideal é seguir trilhas estabelecidas e, desviá-las, pode provocar o caos. Do mesmo modo, acontece quando Hulot passa um dia com a família. As suas trapalhadas causam danos ao jardim, milimetricamente, construído. O homem, no entanto, soma leveza e graça a essas ações, pois sabe viver sem normas impostas.
   Em “Meu Tio”, a casa dos Arpel possui botões e portões automáticos que, por sinal, não funcionam como o desejado. Aparelhos que impedem a comunicação apropriada das personagens, devido ao som que emitem. E, até mesmo, olhos que vigiam. A residência não dorme, é uma máquina. Nesse lugar, uma estranha fonte em formato de peixe é ligada pela Madame Arpel, somente, com o intuito de ostentar a modernidade da residência, e para quem convém mostrar essa façanha da família. Entretanto, esse local, em contraste a essa frieza, conta com um menino que brinca com os amigos e seu tio, Hulot. Além de ter a presença de um cão que aprecia a liberdade. Esses são elementos que mantêm a vida real desse ambiente.
   Em 1958, Tati lançou essa obra fílmica. Em 110 minutos revela a representação do sentimento por meio de sua personagem, Hulot. O homem que vive de modo simples, porém feliz, sem preocupações. Diferente de Charles que custou a perceber a importância dessa naturalidade, e a entender o porquê da preferência de Gerard pelo tio. Quando se dá conta, seu filho o vê de outra forma e assim, Charles, passa a conhecer um novo caminho, até quando faz um retorno proibido, nos últimos instantes do filme.
  A partir do foco de Tati é possível notar que as pessoas se tornam reféns da tecnologia, sem compreenderem o quão podem promover o afastamento de momentos prazerosos por conta disso. Razão pela qual se entende que o equilíbrio deve ser desenvolvido. Mesmo sendo um filme lançado em um período em que não existia internet e celular, por exemplo, Tati, expressou sabiamente a adesão desmedida por uma tecnologia que aprisiona o homem, ao invés de libertá-lo.


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