sábado, 14 de dezembro de 2013

CARAVAGGIO

   Nathalia Cavalcante

Amor Vincet Omnia (1602 - 1603)
  O filme de Derek Jarman apresenta o trajeto de Caravaggio até o reconhecimento, ocorrido por intermédio do acolhimento de representantes da Igreja Católica. Por consequência, o artista concebe em suas obras a religião, porém a envolvendo com aspectos sociais, já que o artista procurava representar em suas obras pessoas comuns, oriundas de uma condição de vida humilde. O longa-metragem apresenta Caravaggio em três períodos diferentes: a infância (Noam Almaz), a juventude (Dexter Fletcher) e a fase adulta (Nigel Terry). O diretor adotou a narrativa não-linear.  Dessa forma, Caravaggio inicia a trama em uma cama, duranteum resquício de vida. A partir disso, o protagonista envolve a história por meio de sua narração. Assim, Jarman apresenta a vida de Caravaggio contada por meio de flashbacks, em que o artista narra e conduz a trama até o auge, quando se tornou um artista de renome.
   Nesta obra fílmica são evidenciadas as cores constantes na pintura desse ícone. O vermelho recebe destaque principal, sendo possível de relacioná-lo à energia adotada em torno de seu feito artístico e até mesmo a dramaticidade ilustrada, também, no comportamento e na realidade íntima do artista. O diretor, aqui, se atém unicamente ao protagonista, sua obra e comportamento.
 O martírio de São Mateus (1599 - 1600)
    A biografia retratada e detalhada não é incorporada ao método, visto que o figurino e objetos de cena, como uma máquina de escrever, destoam da realidade da época, fornecendo, de certo modo, a informação de que o enredo também poderia ser contemporâneo à década de realização do filme (1986). Os trajes condizentes ao período histórico de Caravaggio são absorvidos à trama nas cenas em que o artista se une à alta sociedade, em encontros formais para expor suas obras.
    Entre as pinturas apresentadas no filme, destaca-se: “Amor Vincit Omnia” (1602 - 1603), “O martírio de São Mateus” (1599 - 1600) e “A morte da Virgem” (1607). O primeiro retrata a imagem de Eros. Neste momento, uma moça está à frente da cena. As ações revelam um tom despreocupado, conforme a imagem do anjo. As demais evocam a maneira como Caravaggio se relacionava com as pessoas a quem lhe serviam como modelos e, consequentemente, ao tema atrelado à obra. Essas foram compostas a partir da participação de pessoas que o protagonista havia conhecido em uma luta de periferia.
A Morte da Virgem (1607)
    No segundo, com o lutador, Ranuccio (Sean Bean) a cena anuncia uma possível relação entre artista e obra, de devoção artística e passional.  O terceiro exprime a morte de forma profunda. A personagem Lena (Tilda Swinton) que posa como a Virgem, havia falecido. Lena foi encontrada morta em um lago. A vida se esvaiu e como índice desse acontecimento, na sequência, Jerusaleme (Spencer Leigh) assopra uma vela. Jarman, com isso, se apropria do contexto “caravaggiano” e a expõe morta, para ser retratada. Contudo, nota-se que o diretor relaciona a personalidade dos modelos à obra na qual passam a fazer parte. Além dessas, “São Jerônimo escrevendo”  (1606) e “Enterro de Jesus” (1602 - 1603) fizeram parte da trama. Na primeira, o Cardeal Del Monte posou para Caravaggio. Na segunda, o protagonista incorporou Jesus, forma de evidenciar a sua morte concretizada.
São Jerônimo escrevendo (1606)
    Os elementos fílmicos adotados por Jarman, com isso, dão espaço ao que poderia ser a realidade, já que o período de vida do artista não possibilitou a conservação de um acervo considerável. Assim, poderia enquadrar como verídicos todos os acontecimentos apresentados. Contudo, o diretor se apropria da fonte artística para revelar seu autor: Caravaggio. Desta forma, os enquadramentos adotados destacam a técnica do artista. A tela cinematográfica, também, valoriza a tela em transformação. É possível observar que são construídas duas telas, concomitantemente: uma pelo protagonista e outra pelo seu criador fílmico.
Enterro de Jesus (1602 - 1603)
    Caravaggio, de Jarman, expõe em 93 minutos, uma trajetória conturbada, porém rica em sabedoria e concepção artística, em uma Itália própria do diretor, que ressalta a propriedade e confiança do protagonista. Como já explanado, o enredo não se fixa aos detalhes exigidos pelo período de vida do retratado. Além disso, a trilha sonora apresenta ritmos semelhantes aos do momento de realização do filme.
   Logo, observa-se que, além da importância dada, exclusivamente, às ações, pode ser também considerado um modo de aproximar o espectador ao filme e portá-lo à atualidade, pois Caravaggio foi um artista de vanguarda. Isso, porque o diretor adotou a visão do artista, sendo assim, até mesmo os créditos finais são apresentados de modo contrário ao habitual. As obras revelam personagens simples, ou seja, a realidade da população e suas características próprias são aspectos, fortemente, destacados na obra de Jarman. Construções imersas em uma crítica social, favorecendo a contemplação à classe menos favorecida, a tornando elemento essencial.

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