quarta-feira, 3 de abril de 2013

Intensidade feminina

Almodóvar revela histórias de mulheres que passam por altos e baixos como em um flamenco

Nathalia Cavalcante

Raimunda, personagem de Penélope Cruz
   Em 121 minutos, mais uma vez é possível prestigiar as cores de Pedro Almodóvar, em Volver, de 2006. O terceiro filme com Penélope Cruz traz a atriz espanhola no papel de Raimunda, mãe de Paula, uma adolescente de 14 anos. A dedicação de Raimunda faz com que ela trabalhe, incansavelmente, para manter a casa. Como se isso não bastasse, seu marido, Paco, tenta abusar sexualmente de sua filha. A menina, em legítima defesa, assassina o homem. Depois dessa morte, mãe e filha unem-se ainda mais.
   Soledad, a Sole, é irmã de Raimunda, e abriga Irene. A mulher é a mãe das irmãs que, até então, acreditavam piamente na morte dessa personagem.  A volta de Irene faz surgir revelações do passado. A partir daí desvendam-se segredos de família. Mesmo com essas tragédias, o diretor apresenta a trama com humor. Volver tem um enredo vivo, com personagens intensas. Cada uma com uma história própria e forte, com razão para estarem ali.
Irene e Raimunda
   Assim como em Kika (1993), Tudo sobre minha mãe (1999) e Fale com ela (2002), Almodóvar traz uma história atípica, porém com a sua característica espanhola de contar. Volver, assim como o próprio título já revela, é uma narrativa de voltas, sejam elas boas ou ruins, mas que na verdade, a intenção é colocar tudo em seu devido lugar. Por isso, nada mais propício que uma volta inesperada e inusitada, a la Almodóvar.
   A mãe que retorna da morte é interpretada por Carmem Maura. A atriz, veterana em filmes de Almodóvar, depois de 17 anos longe dos sets do diretor, encarna essa matriarca que havia deixado as filhas, por ter provocado uma reviravolta no passado. Esse motivo avassalador tem ligação direta com Raimunda que, até reencontrar a mãe, guardava mágoas. No entanto, o “fantasma” de Irene reaparece para esclarecer as adversidades ocorridas, que a fez desaparecer.
   Apesar do encargo dramático, um dos tons engraçados é o motivo que faz Irene ser reconhecida. Quando essa personagem retorna, Sole apesar do medo de pessoas mortas, acolhe sua mãe, naturalmente. Irene tenta um disfarce de cabeleireira russa, no salão de beleza de Sole, mas não por muito tempo, isso porque um certo odor a denuncia.
Raimunda cantando Volver
   Dessa vez, Almodóvar retorna com suas histórias femininas, de personalidades fortes. Mulheres que não têm receio de recomeçar, que buscam sempre o melhor, não somente em benefício próprio, mas para o bem comum. Essa coragem é exemplificada em várias cenas, desde o momento em que Raimunda sai à procura de um lugar para esconder o corpo do marido, com a ajuda da filha, passando pelo abraço entre Irene e Raimunda em um banco de praça. Nessa cena, a força é demonstrada em forma de união, após uma conversa reveladora entre mãe e filha. Porém, um dos pontos altos do filme é o instante em que Raimunda canta “Volver”, de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera, interpretada por Estrella Morente. A cena mostra Penélope Cruz em uma bela atuação com os olhos marejados.  Outra homenagem é ao cineasta italiano Lucchino Visconti, em que um dos trechos de Belíssima, de 1951, é admirado por Irene.
  Desde a primeira cena no cemitério onde um forte vento atrapalha a arrumação das irmãs no túmulo de Irene, ao encerramento, Almodóvar liga as  imagens ao texto. Não para reforçar o que já foi dito ou apresentado, apenas como ponto de ligação, para a compreensão da história dessas quatro mulheres, que conduzem o enredo. Não é uma narrativa que entrega os fatos, mas sim, que possibilita o entendimento de cada movimento.
  As cores tão presentes em seus filmes ficam, especialmente, para Raimunda. Nos momentos fortes do filme, lá está o vermelho, justificando a sua presença. Pedro Almodóvar não é apenas o responsável pela direção, ele também é dono do roteiro. Até porque ele só dirige o que escreve; fato que dá mais legitimidade à obra. Além disso, é impossível se espantar com histórias nesse tom, quando a assinatura é almodovariana.

Em companhia
      Desde 1997, Penélope Cruz e Pedro Almodóvar trabalharam juntos em quatro longas-metragens. O primeiro, com uma participação em Carne Trêmula, com Javier Bardem no elenco. Dois anos depois, veio Tudo sobre minha mãe. Um filme dramático, com uns toques não convencionais. Nele, Penélope interpreta a freira Rosa, que contrai o vírus HIV.
     Volver a consolidou como a atriz de Almodóvar. Uma personagem forte, presente na família. O longa-metragem rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz. Na sequência, Los Abrazos Rotos, de 2009. Mais um drama, dessa vez em flashback. A atriz interpreta Lena, uma mulher que se torna atriz de cinema.
        O último filme de Almodóvar, La Piel que Habito, de 2011, não traz Penélope no elenco. A vez ficou para Antonio Banderas, responsável pela interpretação de Ledgard, um cirurgião plástico que promete vingança pela filha. Essa é a quinta participação do ator em filmes de Almodóvar. O primeiro foi em 1986, com Matador. No ano seguinte, A Lei do Desejo reúne novamente diretor e ator. Mulheres à beira de ataque de nervos, de 1988, traz Banderas e Carmem Maura, no papel principal. A última parceria, até então, foi em Ata-me!, de 1989.





0 comentários:

Postar um comentário