quinta-feira, 21 de março de 2013

Meninas

  Nathalia Cavalcante        

           Antecipar uma fase da vida. Essa poderia ser a frase de quatro adolescentes que dão vida ao documentário “Meninas”, de 2006, dirigido por Sandra Werneck. Na tela, as meninas apresentam suas histórias, cada uma com suas particularidades. O título evidencia não somente a idade, mas também as constantes interrogações que rondam os pensamentos dessas, que poderiam continuar com as ansiedades corriqueiras da adolescência. Porém, a maternidade tomou lugar dessas preocupações.
            A periferia do Rio de Janeiro é o ambiente que conduz o enredo. Cada personagem é revelada, ao longo de um ano. A gestação trouxe mudanças, a um espaço ocupado pela rotina costumeira de quem sonhava com o futuro, ainda. No entanto, um trecho desse tempo próximo havia se adiantado e, com isso, as adaptações tiveram de ocorrer, sem contestações, pois a situação não permitia.
Luana, 15 anos. Sem a presença do pai, precisou ajudar a mãe a cuidar das quatro irmãs. A responsabilidade se acumulou mais uma vez. Segundo Luana, a gravidez era esperada, o casamento não foi desejado por ela, bastava que estivessem juntos. Ela esperava retribuir a mãe o esforço recebido. Evelin, 13 anos. Mesmo grávida não deixou de frequentar o baile funk. A escola ficou para trás, na quinta série. Ela, não escondia a sua paixão pelo namorado. Ele, havia se afastado do tráfico de drogas. Os pais são separados, ela mora com a mãe e um irmão, o pai, que trabalha como motoboy, acredita que falharam na educação de Evelin, por isso a menina engravidou.
            As outras histórias são ligadas. Isto porque, Edilene, de 14 anos, e Joice, de 15 anos, engravidaram do mesmo rapaz. Alex, enquanto namorava Edilene, engravidou a ex-namorada. A situação fez com que o rapaz afastasse a atual. A moça, que estava morando com ele, iria esperar o filho nascer para voltar a morar com a mãe, que também estava grávida.
Sandra Werneck e Evelin
            O documentário de Sandra Werneck acompanha a rotina das garotas ao logo de toda a gestação. A diretora resume em entrevista para O Globo, em 10 de outubro de 2006, seu trabalho. “Sempre trabalhei com as questões da infância e da adolescência. Já falei sobre trabalho e prostituição infantil, sobre meninos de rua. Então quis entrar no universo dessas meninas que têm filho muito cedo, quis ver como é isso de ser mãe quando ainda se deveria estar brincando, como é pular esse espaço da adolescência, que é tão importante na vida de qualquer um. Esse foi o motivo.” Ao mesmo tempo em que a maturidade surge, por conta da situação, ainda insistiram os resquícios da infância. A vinda de um filho precocemente, não escondeu o olhar de meninas.

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