segunda-feira, 11 de julho de 2011

Na poltrona!

Histórias Extraordinárias

Nathalia Cavalcante

No início deste ano estreou nas telas brasileiras “Lixo Extraordinário”. O documentário, de 90 minutos, apresenta o Jardim Gramacho, um dos maiores aterros sanitários do mundo, localizado na periferia do Rio de Janeiro. A diretora inglesa Lucy Walker e os codiretores brasileiros João Jardim e Karen Harley registram, em dois anos, de 2007 a 2009, o artista plástico brasileiro Vik Muniz realizando seu trabalho fotográfico. A princípio os catadores de materiais recicláveis – assim sempre lembrada a denominação da função pelo presidente da Associação dos Catadores de Reciclagem do Jardim Gramacho, Tião –, seriam apenas retratados. No entanto, a missão tomou um novo rumo quando Vik conheceu a história de cada uma das personagens.
Assim, ao longo desse tempo, os retratados passaram a ser também artistas, e ajudaram a compor seus próprios quadros, a partir de materiais recicláveis, tão comuns no dia a dia dessas pessoas. Esses elementos tomam novos formatos e incorporam feições e sentimentos daqueles que emprestaram suas respectivas imagens para produção de uma obra de arte. A vida dessas pessoas mudou, quando deram conta que havia esperança e possibilidade de ir à busca de um caminho melhor.
As identidades começam a ser identificadas. Com isso, deixam de ser mais um em meio ao lixo, mas sim, conhecidos como indivíduos que possuem uma história para contar. A partir disso surge Tião, um rapaz que cresceu na região e encontrou no lixo a fonte de sabedoria: os livros. O conhecimento desprezado por uns, foi respeitado por ele, como obras clássicas de Friedrich Nietzsche e Nicolau Maquiavel. Assim foi criada a biblioteca comunitária do Jardim Gramacho, coordenada por Zumbi, um dos retratados.
Um novo mundo que até então seria impossível de se aproximar já havia se tornado rotina, a de participar ativamente de uma composição artística. Levar esse conhecimento até eles os afastou, mesmo que por um momento do sofrimento da rotina exaustiva do aterro. A fotografia de Vik Muniz, de cada personagem, ganhou o tratamento do material recolhido por eles. Diante de seus quadros reproduzidos por meio desse material, a nova fotografia apresenta o lixo transformado em obra de arte extraordinária. O documentário beira à perfeição. Provocador e intenso a seu modo. Mas o que mais impressiona é a sua humanidade, sem estereótipos. “Lixo Extraordinário” concorreu ao Oscar 2011, com a indicação de Melhor Documentário, mas o estadunidense “Inside Job”, de Charles Ferguson ganhou a estatueta.

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