segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Cinema Comentado

Análise de Cabra marcado para morrer

Nathalia Cavalcante

Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho, apresenta uma narrativa não-linear. Isso se deve pelo fato do documentário resgatar, em diversos momentos, passagens anteriores, já gravadas. Além disso, mostra imagens paralelas ao filme como, por exemplo, o último comício liderado por Elizabeth Teixeira, após a morte de seu marido, João Pedro Teixeira. Idealizado, primeiramente, como um longa-metragem incluindo atores não profissionais, mas que contribuiriam por estarem acostumados com aquela realidade, por serem moradores da região, na época. Lembrando que Elizabeth representaria sua própria vida, sendo a única personagem “real”.
O enredo pretendia contar a história do líder da liga camponesa de Galiléia, Pernambuco, João Pedro Teixeira. A liderança de João chegava ao fim em 1962, quando foi assassinado numa emboscada desempenhada por policiais militares e um vaqueiro. Os autores não foram condenados.
As filmagens foram realizadas entre 1962 e 1964, período em que o Brasil era governado por João Goulart, defensor das reformas de base, ação que os militares não aceitavam. Com o golpe de 64, o filme foi interrompido e o material apreendido, sendo salvos uma parte da película, por ter sido enviada a São Paulo para revelação; parte do roteiro e oito fotografias.
Depois de 17 anos, Coutinho retorna ao campo onde o original Cabra marcado para morrer foi iniciado. O diretor colheu depoimentos dos atores, mostrando suas respectivas rotinas, até chegar ao paradeiro de Elizabeth Teixeira. Coutinho mescla imagens do filme original com depoimentos de atores e familiares, que ele havia reencontrado, depois de 17 anos, para ilustrar os momentos lembrados pelos entrevistados. O diretor apresenta as cenas explicadas, utilizando a voz off de quem explana os fatos.
A realização do documentário foi possível, pois Coutinho relembra os acontecimentos que levaram à realização do projeto, já que o original não pôde ser concluído. O diretor faz uso de matérias jornalísticas e fotografias que esclarecem as razões que culminaram no documentário, elementos característicos de documentário pra cinema.
Coutinho, além de ser o responsável pela direção, também atua como repórter, realizando as entrevistas. A essência de Cabra marcado para morrer é documentária, mesclando imagens do que restou do filme original, como meio de ligar o que aconteceu no período em que João Pedro foi assassinado, vinculando ao impedimento da continuidade do projeto para, finalmente, apresentar a realidade de 17 anos depois. Ação necessária pelo tempo em que a produção do filme ficou estacionada.
O diretor não se prende ao formato Pedrão de documentário, ou seja, apresenta uma direção livre, em que a equipe se faz presente, não é escondida. Logo, apresenta elementos de documentário para TV, já que o repórter, além de manter uma conversa com os entrevistados, também está presente em cena. O documentário de 116 minutos foi lançado em 1985.

0 comentários:

Postar um comentário